A interrupção repentina do financiamento destinado ao combate ao HIV/Aids, promovida pela administração do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode gerar um alarmante aumento de infecções e mortes em escala global. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a retirada do apoio financeiro pode resultar em até 2.000 novas infecções diárias e um aumento de até dez vezes nas mortes relacionadas à doença, caso o suporte dos Estados Unidos não seja restaurado ou adequadamente substituído.
Em declarações feitas nesta segunda-feira, a diretora-executiva do UNAIDS, Winnie Byanyima, advertiu que o impacto do congelamento dos fundos é devastador, principalmente para as populações mais vulneráveis que dependem de tratamentos de HIV/Aids e serviços essenciais de saúde. “A retirada abrupta do financiamento dos EUA está provocando o fechamento de clínicas, demissões em massa de profissionais de saúde e o colapso de serviços vitais. Estimamos que, sem a manutenção dos recursos, poderemos ver até 2.000 novas infecções por HIV todos os dias”, alertou Byanyima, durante coletiva de imprensa realizada em Genebra.
A medida tomada pelo governo Trump, que congelou grande parte da ajuda externa ao assumir o cargo, visa alinhar-se à política de “America First”, mas tem gerado sérios desdobramentos na saúde pública global. Embora o Departamento de Estado tenha afirmado que serviços vitais, como o Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da Aids (PEPFAR, na sigla em inglês), continuariam com suporte, a realidade tem mostrado o contrário: o efeito de uma redução abrupta de recursos compromete o funcionamento do sistema de saúde e coloca vidas em risco.
O UNAIDS, que coordena as respostas internacionais ao HIV/Aids, estima que, caso o financiamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) não seja retomado até abril de 2025, a interrupção resultará em mais 6,3 milhões de mortes nos próximos quatro anos. Em 2023, 600 mil mortes relacionadas à Aids foram registradas mundialmente, um número que pode aumentar dramaticamente se a situação não for revertida.
O governo Trump justificou a suspensão dos recursos com a alegação de reduzir desperdícios e fraudes, destacando que o corte de contratos e a eliminação de supostas ineficiências seriam benéficos para os contribuintes norte-americanos. Contudo, essas afirmações carecem de evidências claras que comprovem tais economias. O impacto imediato, no entanto, é sentido pelas populações que dependem desses serviços para garantir a continuidade dos tratamentos e salvar vidas.
Os números apresentados pelo UNAIDS são baseados em modelos globais que projetam o cenário catastrófico caso a ajuda seja suspensa por mais tempo. O financiamento fornecido pelos EUA ao UNAIDS, que corresponde a 35% do orçamento da agência da ONU, foi de US$50 milhões no ano passado. A ausência desse suporte põe em risco a resposta global ao HIV/Aids, tornando ainda mais urgente a necessidade de uma solução política para a crise.
Enquanto a administração dos EUA segue com sua política de cortes, especialistas em saúde pública ressaltam que a luta contra a Aids não é apenas uma questão de assistência internacional, mas também de solidariedade global. A retomada da ajuda financeira ao PEPFAR e a colaboração entre países devem ser prioridades para garantir que o avanço no combate ao HIV/Aids não sofra retrocessos irreparáveis.
A suspensão dessa ajuda representa não apenas uma ameaça à saúde pública, mas também uma violação dos compromissos globais assumidos por governos em prol do desenvolvimento humano e do acesso universal a tratamentos de saúde. O cenário desenhado por essas estatísticas é um chamado urgente para a ação, para que a luta contra a Aids continue a avançar sem interrupções e sem perder o foco nas vidas que estão em risco.